quarta-feira, 29 de junho de 2011

Uma abordagem doutrinária sobre a Homossexualidade

RESUMO

Este artigo trata do tema da homossexualidade sob o prisma da Doutrina Espírita. O primeiro e maior desafio consiste em estabelecer uma relação doutrinária com a temática, procurando não contaminar essa relação com interpretações pessoais ou conceitos prévios. Enfim, o que se pretende é apresentar uma visão doutrinária o mais livre possível de uma visão pessoal do autor.

Inicialmente são estabelecidos os conceitos básicos utilizados nas abordagens e explicações sobre o tema, de modo a evitar duplas ou múltiplas interpretações que mais confundem do que esclarecem. Uma vez apresentados e estabelecidos os conceitos básicos, serão apresentadas algumas questões de ``O Livro dos Espíritos" que servirão de ponto de partida para o desenvolvimento de uma linha de raciocínio que a partir da temática da sexualidade irá apresentar uma abordagem doutrinária da homosexualidade.

Em uma terceira parte deste estudo, apresentar-se-á algumas visões e interpretações complementares sobre o assunto, utilizando palavras e termos mais próximos de nosso  contexto social, cultural e histórico, de modo a melhor propiciar condições de reflexão própria para a construção de uma visão doutrinária pessoal para cada um dos leitores.

A expectativa não é a de trazer uma explicação pronta e acabada. A expectativa é de fornecer os elementos doutrinários correlatos para que cada um elabore seu entendimento próprio do assunto, em acordo com seu  estado evolutivo particular. Sob as luzes do Espiritismo e sob as bençãos e o amparo do Cristo, espera-se com este estudo iluminar corações e mentes, para que iluminando a si em primeiro lugar, sejamos sempre um lume em movimento para nós próprios e para a atmosfera que nos cerca.

Introdução


Falar sobre sexualidade, de maneira geral, sempre foi difícil. Ao longo de muitos séculos e ainda  hoje, os temas relativos a sexualidade estão intimamente ligados com muitos outros fatores sociais, culturais, religiosos e psicológicos. E ao  longo  desse  tempo  todo, a maioria das famílias e dos pais tem optado por não abordar o assunto, que acaba  por  ser vivenciado de um jeito ou de outro a partir da adolescência, posto que é impossível deter a vida de relação com o mundo exterior.


E se já é difícil  falar da  sexualidade dita normal, aceita pela sociedade, a abordagem dos comportamentos não  aceitos  é muito mais difícil ainda, porque a não  aceitação  estabelece uma proibição  muitas vezes explícita de que se trate do assunto, fazendo com que usualmente, aborde-se o tema ou pra condenar ou para ridicularizar, evitando-se assim o entendimento, ou em uma hipótese ainda pior, conduzindo ao mal entendimento e à perpetuação  da  ignorância danosa.


Abordar o assunto homossexualidade, com o espírito desarmado, sem medo do que os outros vão pensar, sem o escudo do escárnio das piadinhas e sem paixões ainda não é comum na sociedade em que vivemos. Abordar esse assunto sob a ótica da Doutrina Espírita, é tarefa  que  exige um cuidado redobrado, para que não distorçamos os conceitos doutrinários em favor dos preconceitos pessoais do espírta, principalmente numa época de modismos onde é comum aqui e ali escutarmos as idéias de reformar e atualizar Kardec.


Agora, não é porque o assunto é delicado que vamos fugir do estudo e da análise, e nem tampouco vamos delegar a nossa tarefa de pensar e emitir juízo de valor a outras pessoas, afinal, consciência é pessoal e intransferível. Sendo assim, vejamos a seguir algumas questões do Livro dos Espíritos e procuremos alinhavar algumas idéias a partir das respostas dadas a Kardec.


Consulta às Bases

Analisemos algumas questões do Livro dos Espíritos.


Pergunta 200: Têm sexos os Espíritos?

Resposta: “Não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos.”


Será possível inferir, a partir da resposta a pergunta 200:


  1. Que Os sexos que dependem da organização são os sexos morfológicos estabelecidos  pela biologia ?
  2. Que ao responder, os espíritos superiores entendem o espírito como entidade sem corpo morfológico ? Caracterizada apenas pela sua inteligência e vontade ?
  3. Que mesmo utilizando um corpo, o espírito não é o corpo ?


Que pensaríamos da pergunta: "As mulheres tem bolsa ?". É uma pergunta sem sentido, não é mesmo ? E o que isso tem a ver com o sexo dos espíritos ? Na realidade, os espíritos usam os corpos assim como as mulheres usam as bolsas, e apesar dos corpos e das bolsas estarem intimamente ligados com seus donos, eles não são seus donos. Mas por hora fiquemos por aqui... Vejamos outra pergunta:

Pergunta 201: Em nova existência, pode o Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher e vice-versa?

Resposta: “Decerto; são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres.”


O que inferir dessa resposta ? Algo parecido com a história das bolsas ou das roupas ?  ou seja, ao longo de nossas vidas atuais podemos vestir vários tipos de roupas, dependendo da ocasião e da necessidade... sem com isso deixarmos de ser nós mesmos, e sem com que as roupas se transformem em pessoas dotadas de vontade... O que inferir dessa resposta ? pergunta-se novamente. Vejamos mais uma pergunta:


Pergunta 202: Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem, ou no de uma mulher?

Resposta: “Isso pouco lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja de passar.”


Comentário de Kardec: " Os Espíritos encarnam como homens ou como mulheres, porque não têm sexo. Visto que lhes cumpre progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social,  lhes proporciona provações e deveres especiais e, com isso, ensejo de ganharem experiência."


Uma informação doutrinária importante nessas três respostas é que os espíritos não tem sexo, no sentido que biologicamente entendemos. Os corpos que os espíritos utilizam em suas várias encarnações é que tem o sexo, assim como as roupas que usamos podem ter caracteres distintos, um mesmo espírito, ao longo de sua jornada evolutiva pode utilizar corpos masculinos ou femininos, conforme a necessidade de crescimento e aprendizado.


Vejamos agora outras perguntas e respostas de um outro capítulo do Livro dos Espíritos:

Pergunta 686: É lei da Natureza a reprodução dos seres vivos?

“Evidentemente. Sem a reprodução, o mundo corporal pereceria.”

Pergunta: 693: São contrários à lei da Natureza as leis e os costumes humanos que têm por fim ou por efeito criar obstáculos à reprodução?

“Tudo o que embaraça a Natureza em sua marcha é contrário à lei geral.”

Pergunta 694: Que se deve pensar dos usos, cujo efeito consiste em obstar à reprodução,  para satisfação da sensualidade?

“Isso prova a predominância do corpo sobre a alma e quanto o homem é material.”

Pergunta 700: A igualdade numérica, que mais ou menos existe entre os sexos, constitui  indício da proporção em que devam unir-se?

“Sim, porquanto tudo, em a Natureza, tem um fim.”

Na seqüencia de perguntas que vai desde a 686 até a pergunta 701, é evidente a preocupação de Kardec com os métodos contraceptivos, a ética na engenharia genética (inexistente a época), o casamento e o celibato. Porém o mais interessante dessa seqüência é o caráter geral da Lei Divina que transparece e intermedia todas as respostas... e mesmo que não se fale especificamente de Homossexualidade, analisemos atentamente as respostas e iremos concluir o seguinte:


  1. A reprodução da espécie humana é da lei divina. (686)
  2. Tudo que obste ou impeça a reprodução humana é contrário à Lei divina (693)
  3. É comum no atual estágio evolutivo humano obstar-se a lei para satisfazer o prazer   sexual (chamado de sensualidade) (694)
  4. O natural é que os homens se unam às mulheres, razão de ser da proporção numérica entre os sexos, pois tudo na natureza tem um fim (700)


A partir das conclusões parciais das perguntas anteriores, pode-se proceder uma análise de conformidade com a lei Divina relativa à união de seres do mesmo sexo. Assim, analisemos:


1 Do ponto de vista da procriação, a união de seres com o mesmo sexo        impede ou não impede a procriação ?

2 Impedir a procriação é contrário à Lei Divina ?

3 Do ponto de vista da proporção numérica natural que existem entre homens e mulheres, a união de seres do mesmo sexo é contrária à lei Divina ?

Analisando as questões acima, pode-se precipitadamente querer utilizar a Doutrina para condenar comportamentos. Antes de mais nada, é importante lembrar que existem uma série de outros comportamentos humanos que são contrários às leis divinas, como fumar, ingerir alcoólicos, mentir, comer mais do que o necessário... e por aí vai. Mas... para não fugirmos do foco do assunto lembremos que estamos analisando a questão da homossexualidade, que é um caso particular da sexualidade

Para entender a homossexualidade, sob qualquer ótica, inclusive a espírita, é necessário, entender antes a sexualidade. A partir da análise das perguntas e respostas propostas até aqui, é possível inferir que:


1 O que determina o comportamento sexual é o espírito e não o corpo.

2 O que a sociedade usualmente aceita como normal é a equivalência entre a morfologia  biológica e o pisiquismo sexual, assim, o que a sociedade espera é que os psiquismos    masculinos estejam encarnados em corpos masculinos, e o mesmo em relação aos espíritos com psiquismo feminino encarnando em corpos biologicamente femininos.

3 Ao longo da jornada imortal de milhares de séculos, o espírito experimenta e aprende a vivenciar suas características psíquicas femininas e masculinas ambas presentes em sua essência espiritual e ambas necessárias à sua evolução global, Por isso experimenta vivências ora encarnando com o psiquismo predominante masculino, ora o feminino.

4 O prazer sexual é, em última análise, desejado e sentido pelo espírito, sendo o corpo um agente intermediário na captação e transmissão das sensações, uma vez que em nosso  atual estágio evolutivo, necessitamos dos nossos corpos para estabelecer relação de  intercâmbio energético entre espíritos.

5 No atual estágio de desenvolvimento humano, o ato sexual entre os corpos biológicos é uma ação que transmite aos nossos espíritos sensações prazerosas, e em muitos casos essas sensações são tão intensas que o espírito as busca de formas viciosas, normalmente afastando-se da lei divina.

6 Mesmo que a morfologia do corpo não seja equivalente ao psiquismo sexual  predominante,  prevalecerá a vontade do espírito. Nesses casos se verificará a tendência  ao comportamento que a ciência moderna classifica como homossexual.

7 A tendência a um comportamento, não necessariamente implica na manifestação do comportamento. Assim, é possível que uma pessoa com tendências suicidas viva uma vida inteira, sem que necessariamente suicide-se. O mesmo pode ocorrer com a tendência ao comportamento homossexual.


Visão de Emmanuel

O Livro dos Espíritos apresenta a Doutrina Espírita com a simplicidade e a generalidade naturais aos Espíritos Superiores. Os conceitos são atemporais, isto é, válidos em qualquer época. Mas a simplicidade não é uma característica humana, pois se assim fosse nos bastariam os dez mandamentos. O dez mandamentos não foram suficientes... muitas leis e explicações de leis seguiram-se a eles. E mesmo sendo a doutrina extremamente clara em o Livro dos Espíritos, muitos livros desenvolvendo
os raciocínios ali contidos foram escritos. Um desses livros chama-se ``Vida e Sexo" do autor espiritual Emmanuel sob a psicografia de Francisco Cândido Xavier. Nesse livro existe uma seção específica dedicada a análise da homossexualidade. O texto extraído dessa seção encontra-se no apêndice  do presente artigo, e dele destacam-se os seguintes trechos:


Trecho 1:

A homossexualidade, também hoje chamada transexualidade, em alguns círculos de ciência, definindo-se, no conjunto de suas características, por tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo [...]


Neste trecho podemos perceber uma definição, que é um importante passo no entendimento de algo. Neste trecho define-se homossexualidade como sendo  a tendência da criatura para a comunhão  afetiva com outra criatura do mesmo sexo


Trecho 2:


[...] A coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade  e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos [...]


Mais uma vez a explicação de que não é o hábito que faz o monge, ou em português bem claro, não é a existência ou a ausência de um órgão sexual que determina o psiquismo de um espírito.


Trecho 3:


[...] através de milênios e milênios, o Espírito passa por fileira imensa de reencarnações,  ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas.

O homem e a mulher serão, desse modo, de maneira respectiva, acentuadamente masculino ou acentuadamente feminina, sem especificação psicológica absoluta. A face disso,  a individualidade em trânsito ( grifo do presente texto), da experiência  feminina para a masculina ou vice versa, ao envergar o casulo físico, demonstrará fatalmente  os traços da feminilidade em que terá estagiado por muitos séculos, em que pese ao corpo de formação masculina que o segregue, verificando-se análogo processo com referência  à mulher nas mesmas circunstâncias.[...]


Nesse trecho é apresentada uma causa para a homossexualidade. Que é a transição da encarnação em que se dá no mudança entre a experiência de uma sexualidade para outra. Desse ponto de vista, e considerando que forçosamente temos que vivenciar experiências com os pisiquismos masculinos e femininos, todos passaremos ou já passamos por essas fases de transição e de dificuldades de adaptação.


Trecho 4:


[...]O homem que abusou das faculdades genésicas, arruinando a existência de outras pessoas com a destruição de uniões construtivas e lares diversos, em muitos casos é induzido a buscar nova posição, no renascimento físico, em corpo morfologicamente feminino, aprendendo, em regime de prisão, a reajustar os próprios sentimentos, e a mulher que agiu de igual modo é impulsionada à reencarnação em corpo morfologicamente masculino, com idênticos fins.[...]


Nesse trecho, apresenta-se outra causa para a homossexualidade.

As elucidações de Emmanuel vêm reforçar os aspectos doutrinários explanados no Livro dos Espíritos, clareando ainda mais os conceitos e indo além, apresentam duas causas espirituais para a tendência ao comportamento homossexual. Além disso, é fácil entender no texto de Emmanuel o quão equivocado é o julgamento de anormalidade que muitas vezes adotamos em relação as minorias, mostrando que a condenação e a ridicularização do comportamento homossexual é sempre prova de considerável inferioridade espiritual


Visão de Joseph Gleber

Uma outra abordagem bastante racional e elucidativa sobre o tema dos comportamentos sexuais foi desenvolvida pelo espírito Joseph Gleber, no livro ``Além da Matéria", psicografado por Robson Pinheiro. Essa abordagem está desenvolvida no capítulo 4 desse livro cujo título é Polaridade. Desse capítulo destacamos os seguintes trechos:


Trecho 1

[...] TUDO NO UNIVERSO CAMINHA para a unidade. Contudo, nesse processo de caminhada o mundo ainda vivencia e vibra na polaridade. Há sombra e luz, preto e branco, bem e mal, feminino e masculino, positivo e negativo. [...]


Uma interpretação plausível para esse trecho é que a questão da manifestação sexual é uma preocupação da nossa época. Assim, como em tempos idos o fogo era quase sagrado e hoje é apenas o fogo, as questões relativas aos comportamentos sexuais e às paixões suscitadas por essa temática é da nossa época, e em estágios mais evoluídos a questão do sexo é um assunto de importância relativa bem menor do que é para a nossa humanidade.


Trecho 2


[...] Positivo e negativo são classificações adotadas pela ciência para identificar as duas polaridades das correntes elétricas. Feminino e masculino classificam a polaridade da sexualidade humana.[...]


Nesse trecho, Gleber apresenta um conceito que mais tarde será utilizado em uma convenção de sinais.


Trecho 3


[...] É importante compreender que os fatores positivos e negativos não estão
necessariamente associados aos conceitos de moralidade e, por isso, nada têm a ver com o bem ou o mal realizado pelo indivíduo.[...]


Trecho 4


[...] Negativo é sinônimo de passividade [...] são fatores negativos o sentimento, a emoção, a experiência de meditação ou a sensibilidade extrema.



Trecho 5


[...] Fatores positivos, masculinos, [...] podem ser identificados na razão, na irritabilidade, na capacidade de tomar decisões, na clareza mental ou nas relações comerciais.[...]


Trecho 6


[...] Assim, um espírito que traga em si maior combinação de fatores nagativos haverá de se apresentar com sensibilidade muito maior do que aquele em cujo espírito haja maior soma de fatores positivos, masculinos. A apresentação do indivíduo no cotidiano, ao realizar seu papel nas experiências da vida, nada tem a ver com o seu aspecto físico ou com sua morfologia [...]


Trecho 7

[...] Quando há semelhança entre a morfologia e o conteúdo psicológico, na sociedade se diz que há equilíbrio do indivíduo, e, ao contrário, quando a psicologia difere da morfologia, diz-se que há desequilíbrio.


Essas classificações simplistas podem constituir recursos de pessoas ignorantes de certas leis do mundo espiritual e energético, a fim de defender postura rígidas e já ultrapassadas. Caso a semelhança entre a morfologia humana e o conteúdo psicológico fosse sinônimo de seres equilibrados, não observaríamos os diversos comportamentos irracionais, anti-humanitários, e grosseiros de pessoas consideradas heterossexuais.[...]


Trecho 8


[...]Com nossas considerações não estamos defendendo posturas íntimas deste ou daquele grupo mas, sim, nos esforçando para que meus irmãos compreendam que os fatores externos, visíveis, físicos e próprios da morfologia do ser humano estão subordinados aos fatores internos, psíquicos
ou conteúdos psicológicos.[...]


O capítulo prossegue com mais elucidações e esclarecimentos sobre o tema. Porém, para os objetivos pretendidos neste estudo, a luz lançada é suficiente para iluminar nossas mentes e nos proporcionar um considerável salto qualitativo no entendimento das questões relativas à sexualidade.


Considerações Finais

Como foi dito na introdução do presente estudo, abordar a temática sexual em uma sociedade onde predominam as manifestações exteriores é sempre um desafio. É preciso estar com a mente atenta para não se enveredar pelos caminhos do dogmatismo religioso e nem posturas políticas deste ou daquele grupo.


E mesmo apesar da nossa época, já existem na Doutrina Espírita, elementos conceituais e elucidações doutrinárias suficientes para que evitemos e brevemente eliminemos em cada um de nós os comportamentos retrógrados da condenação ou da ridicularização de qualquer que seja a manifestação de psiquismo sexual que se nos apresente em nossa frente.


O ser humano evolui solidariamente, vivendo essencialmente entre desiguais, com histórias pessoais diferentes, estruturas psicológicas e morfológicas diversas, visões e entendimento da criação e das criaturas muito diversos. Achar-se certo, julgando os demais errados já é indício de atraso espiritual.


A tendência ao comportamento, ou mesmo o comportamento homossexual tem as causas na estrutura psicológica do espírito. E em nosso mundo é sempre uma experiência muito difícil de ser vivenciada, posto que a ignorância dominante condena tais posturas, colocando muitas vezes o espírito que vive essa condição em situações limite que muitas vezes levam ao desequilíbrio e ao sofrimento.


Ao avançar na compreensão das forças sexuais do espírito, cada ser será capaz de acertadamente conduzir-se na vida encarnada de relação com os outros usando o corpo que recebeu, fazendo com que o entendimento domine os chamamentos da matéria corporal. E sejam os aspectos predominantes femininos ou masculinos, o espírito encarnado saberá conduzir-se com o máximo equilíbrio que lhe seja possível, independente da morfologia que anime.


Como dito, o presente estudo não trouxe respostas prontas. Optou-se por lançar luz sobre certos aspectos e suscitar indagações sobre outros, fornecendo elementos necessários para a reflexão própria e confiando na capacidade de cada um de construir o próprio entendimento de si e dos universos que nos cercam.


Que Jesus nos ilumine sempre em nossa jornada evolutiva, nos auxiliando a entender primeiramente a nós mesmos, para que a partir dessa compreensão de si, aprendamos a aceitar e a amar nossos semelhantes, respeitando o momento evolutivo de cada um.


Graça e Paz a todos !


Referências Bibliográficas

1 O Livro dos Espíritos, questões 201, 202, 686 a 700

2 Vida e Sexo, de Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, Item 21.

3 Além da Matéria, de Joseph Gleber, psicografia de Robson Pinehiro, Capítulo 4.


Apêndice


HOMOSSEXUALIDADE

Extraído do Livro Vida e Sexo, de Emmanuel, psicografia Francisco Cândido Xavier

Pergunta - Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um
homem, ou no de uma mulher? Resposta: - Isso pouco lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja de passar. pergunta n. 202, de "O Livro dos Espíritos".


A homossexualidade, também hoje chamada transexualidade, em alguns
círculos de ciência, definindo-se, no conjunto de suas características, por tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra explicação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases materialistas, mas é perfeitamente compreensível, à luz da reencarnação. Observada a ocorrência, mais com os preconceitos da sociedade, constituída na Terra pela maioria heterossexual, do que com as verdades simples da vida, essa mesma ocorrência vai crescendo de intensidade e de extensão, com o próprio desenvolvimento da
Humanidade, e o mundo vê, na atualidade, em todos os países, extensas comunidades de irmãos em experiência dessa espécie, somando milhões de homens e mulheres, solicitando atenção e respeito, em pé de igualdade ao respeito e à atenção devidos às criaturas heterossexuais. A coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que a individualidade, em si,  exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos ou a deprime pelo mal que causa com a parte que assume no jogo da delinqüência. A vida espiritual pura e simples se rege por afinidades eletivas essenciais; no entanto, através de milênios e milênios, o Espírito passa por fileira imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas. O homem e a mulher serão, desse modo, de maneira respectiva, acentuadamente masculino ou acentuadamente feminina, sem especificação psicológica absoluta. A face disso, a individualidade em trânsito, da experiência feminina para a masculina ou vice versa, ao envergar o casulo físico, demonstrará fatalmente os traços da feminilidade em que terá estagiado por muitos séculos, em que pese ao corpo de formação masculina que o segregue, verificando-se análogo processo com referência à mulher nas mesmas circunstâncias. Obviamente compreensível, em vista do exposto, que o Espírito no renascimento, entre os homens, pode tomar um corpo feminino ou masculino, não apenas atendendo-se ao imperativo de encargos particulares em determinado setor de ação, como também no que concerne a obrigações regenerativas. O homem que abusou das faculdades genésicas, arruinando a existência de outras pessoas com a destruição de uniões construtivas e lares diversos, em muitos casos é induzido a buscar nova posição, no renascimento físico, em corpo morfologicamente feminino, aprendendo, em regime de prisão, a reajustar os próprios sentimentos, e a mulher que agiu de igual modo é impulsionada à reencarnação em corpo morfologicamente masculino, com idênticos fins. E, ainda, em muitos outros casos, Espíritos cultos e sensíveis, aspirando a realizar tarefas específicas na elevação de agrupamentos humanos e, conseqüentemente, na elevação de si próprios, rogam dos Instrutores da Vida Maior que os assistem a própria internação no campo físico, em vestimenta carnal oposta à estrutura psicológica pela qual transitoriamente se definem. Escolhem com isso viver temporariamente ocultos na armadura carnal, com o que se garantem contra arrastamentos irreversíveis, no mundo afetivo, de maneira a perseverarem, sem maiores dificuldades, nos objetivos que abraçam. Observadas as tendências homossexuais dos companheiros reencarnados nessa faixa de prova ou de experiência, é forçoso se lhes dê o amparo educativo adequado, tanto quanto se administra instrução à maioria heterossexual. E para que isso se verifique em linhas de justiça e compreensão, caminha o mundo de hoje para mais alto entendimento dos problemas do amor e do sexo, porquanto, à frente da vida eterna, os erros e acertos dos irmãos de qualquer procedência, nos domínios do sexo e do amor, são analisados pelo mesmo elevado gabarito de Justiça e Misericórdia. Isso porque todos os assuntos nessa área da evolução e da vida se especificam na intimidade da consciência de cada um.

Nenhum comentário:

Postar um comentário