terça-feira, 8 de março de 2011

A "pureza" doutrinária

Vou falar de um tema que me incomoda. A tal "pureza doutrinária", expressão que vem sendo usada aqui e ali pelos vigilantes defensores do Espiritismo puro. E porque isso me incomoda ? Em primeiro lugar a palavra "pureza" me incomoda. Porque ? Ora, porque em nosso planeta não existe nada "puro". Mesmo que partamos da hipótese de que a fonte (Os espíritos superiores) seja pura, temos que admitir que o conduto (os médiuns)  e os intérpretes (nós outros) não o são, e que portanto alguma contaminação há de se passar na mensagem. Ainda me incomoda o termo pureza, porque a mim, particularmente soa como algo nazista, segregacionista, inquisitorial e tudo de ruim que esses comportamentos podem trazer.

Eu entendo que muitos do que defendem a "pureza" estão mais preocupados com a "coerência" doutrinária, isto é, preocupam-se em observar que movimentos esdrúxulos que não possuem relação alguma com a Doutrina Espírita se imiscuam no movimento espírita se apropriando do termo "espiritismo" como um elemento de promoção delas e deturpação do espiritismo. Caso seja essa a preocupação vale a pena relembrar alguns comentários contidos na introdução do Evangelho Segundo o Espiritismo.

No título II, da Introdução são registrados os  seguintes comentários:

1) [...] Nessa universalidade do ensino dos Espíritos reside a força do Espiritismo [...]

2)  [...] Não é essa, porém, a única vantagem que lhe decorre da sua excepcional posição. Ela lhe faculta inatacável garantia contra todos os cismas que pudessem provir, seja da ambição de alguns, seja das contradições de certos Espíritos. Tais contradições, não há negar, são um escolho; mas que traz consigo o remédio, ao lado do mal [...]

3) [...] há presunçosos e sofômanos, que julgam saber o que ignoram; sistemáticos, que tomam por verdades as suas idéias [...] 

4) [...] Daí resulta que, com relação a tudo o que seja fora do âmbito do ensino exclusivamente moral, as revelações que cada um possa receber terão caráter individual, sem cunho de autenticidade; que devem ser consideradas opiniões pessoais de tal ou qual Espírito e que imprudente fora aceitá-las e propagá-las levianamente como verdades absolutas [...]

5) [...] Toda teoria em manifesta contradição com o bom-senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos já adquiridos, deve ser rejeitada, por mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura [...]


Poderia colocar mais passagens de outras obras, mas as anteriores bastam para apontar onde quero chegar: As vezes, ao combater veementemente alguém ou alguma ideia,  abrindo espaços para polêmicas e debates, ou mesmo simplesmente citando esse ou aquele, acabamos lançando luz sobre a obscuridade, que muitas vezes tem apenas o objetivo de retardar a marcha. E pensando em sermos àqueles que vigiam os portões da pureza, somos os promotores dos que ainda tentam impedir a inevitável difusão do Espiritismo.

Eu sei que esses escolhos, traduzidos em práticas alheias ao espiritismo fenecerão todos pela própria força do progresso e da marcha para a difusão das ideias espíritas. 

Então irmão, que a nossa defesa da coerência Doutrinária se dê através de nossos pensamentos, atos e palavras. A função de guardião do Espiritismo, se existir, não estará em espíritos como nós outros ainda necessitados de muitas encarnações para compreender a essência dessa Doutrina.

Graça e paz a todos.