quinta-feira, 9 de junho de 2011

Festas Juninas

A função maior de um Centro Espírita é divulgar a Doutrina Espírita. Com pequenas variações, a divulgação da Doutrina Espírita nas Casas Espíritas se dá através das seguintes formas: 1-Estudos e Cursos, 2-Palestras, 3-Evangelização Infanto-Juvenil, 4-Assistências Social e 5-Assistência Espiritual (na qual se inclui a desobsessão).  

Além dessas ações principais, as casas espíritas podem, a seu turno, executarem ações secundárias, principalmente nas áreas da arrecadação de recursos e da congregação dos seus participantes.  É preciso lembrar porém que essas ações secundárias devem guardar coerência doutrinária, e não é em nome do que "é de César" que devemos contrariar "o que é de Deus".

No caso específico das festas juninas, qualquer pesquisa minimamente séria encontrará como origem desses festejos as celebrações pagãs durante o solstício de verão que ocorriam na Europa desde antes da consolidação das civilizações clássicas grega e romana. Eram festejos de agradecimento aos deuses, caracterizados principalmente pela fogueira, pelos casamentos e pela mesa farta.

Ainda em um nível muito superficial de pesquisa, se encontrará a oportuna apropriação desses festejos ao calendário católico quando da consolidação do catolicismo como religião oficial do Império Romano, sendo esses festejos associados a Antônio de Pádua, João Batista e Pedro, o apóstolo. No Brasil, essa associção é tão forte, que muitas vezes usa-se a expressão "o São João" referindo-se ao período das festas juninas.

No Brasil, incorporaram-se às festas juninas elementos do folclore africano e outros desenvolvidos pela nossa própria cultura. Em um Brasil predominantemente rural qualquer ação no sentido de uma boa colheita era aceita e praticada de bom grado, ainda mais com o aval da santa madre igreja.  

Não demorou para que esse caldeirão cultural formasse corpo próprio na cultura nacional. O que é interessante e necessário. Entretanto cabe-nos analisar a simbologia.

1) Fogueiras e fogos de artifício, homenageiam o deus sol, Portanto, um símbolo politeísta, em contraste direto com o primeiro princípio básico da Doutrina Espírita, que é o Deus Único.

2) O casamento: É uma referência ao hábito de se promoverem grandes festas nos períodos de abundância material. Nessa simbologia, o casamento é mais uma conveniência terrena do que um enlace espiritual. Mas uma vez em contradição com uma Doutrina que nos ensina que os laços duradouros são os do Espírito.

3) A comilança: Está associada a felicidade de ter sido abençoado pelos deuses.  Nesse aspecto, comemora-se empanturrando-se das comidas abundantes na região (milho, pinha, etc).  É mais uma vez a vitória da matéria sobre o espírito, isso sem desconsiderar as pitadas de politeísmo. novamente em situação diametralmente oposta a uma Doutrina que ensina o respeito ao corpo físico, dádiva divina destinada ao nosso aperfeiçoamento.

4) Os trajes caipiras: Uma característica brasileira. Mesmo nesse aspecto, os irmãos do Brasil rural são retratados falando errado, com roupas rotas, com dentes estragados e com trejeitos que beiram o ridículo. É mais um contrasenso com uma Doutrina que ensina a nos tratarmos com amor, o que obviamente inclui o respeito.

5) As sinhazinhas são uma referência direta ao triste período da escravidão amparada pelo Estado e pela sociedade. 

6)Não farei alusão ao quentão ou demais alcoólicos (presentes nas festas juninas) por motivos óbvios

Enfim, devido ao caráter festivo e feliz das festas juninas, elas podem ocorrer em muitos locais. Inclusive em alguns centros espíritas esquecidos de que em um local destinado a divulgação da Doutrina Espírita é um tremendo contrasenso promover algo que continue a semear nas mentes dos frequentadores idéias que contradizem totalmente os ensinamentos da Doutrina que estes se propõe a divulgar. É incoerente. Somente justificável pela ignorância a cerca ou da doutrina ou da simbologia dos festejos juninos.

Para concluir, uma reflexão do Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo V, item 24.

"Toda a gente fala da desgraça, toda a gente já a sentiu e julga conhecer-lhe o caráter múltiplo. Venho eu dizer-vos que quase toda a gente se engana e que a desgraça real não é, absolutamente, o que os homens, isto é, os desgraçados, o supõem" [...]

"[...] Para julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as conseqüências. Assim, para bem apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o homem, precisamos transportar-nos para além desta vida, porque é lá que as conseqüências se fazem sentir" [...]

"[...] Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais com todas as veras de vossas almas iludidas. A infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procurais conseguir"

A Doutrina Espírita é assim. Relativamente simples de entender. Relativamente difícil de praticar, porque é muito difícil abandonar velhos hábitos. Ainda mais quando se desconhece ou se fecha os olhos ao caminho que orienta para hábitos mais adequados.

Que a Graça e Paz do Mestre nos ajude a refletir sobre esse assunto.

Marcus Vinícius

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